Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a adolescência começa aos 10 e vai até os 19 anos. Se buscarmos esta definição no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) teremos uma margem um pouquinho diferente, que vai dos 12 aos 18 anos. O consenso geral é que neste período acontecem diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, propiciando a passagem da fase infantil para a adulta, da dependência para a relativa autonomia.
Cerca de 22% da população total do Brasil é adolescente (IBGE, 2000). Geralmente esta época é a mais difícil na relação entre pais e filhos. Os filhos estão aprendendo a atuar como adultos independentes, o que significa que eles devem sair gradativamente (física, emocional e psicologicamente) do ambiente do lar. Já os pais, estão aprendendo a deixá-los.
Esta etapa maravilhosa da vida, que muitos insistem em chamar de “aborrescência” é um despertar para a vida sexual: “Quando será a primeira vez?”, “Já rolô!”, “Usar camisinha? Não sei!”, “Ih, não tenho agora!”, “Conversar ou não com os pais? Ah eles não me entendem e nem vão me escutar mesmo”. Em contrapartida os pais se assustam: “Será que nessa idade é normal namorar, ficar, pedir para sair com a galera?”.
Até mais ou menos os 11 anos de idade, os pequenos não tem a devida estrutura psíquica para processar emoções que surgem em situações complexas vividas pelos maiores. Um beijo sensual, uma tragada, um gole de bebida alcóolica, são novidades que podem surgir. Os adolescentes tentam ser o que não podem para se sentirem “importantes” diante do grupo de amigos, dando margem a sérias conseqüências como a depressão e a agressividade. Por isso é indispensável o exemplo dos pais para educar num sentido mais amplo eprofundo, desde o berço, a fim de que as crianças adquiram valores verdadeiros e reais, superando as dificuldades.
Estabelecer linhas de orientação geralmente gera conflitos, porque o adolescente está aprendendo a apreciar o equilíbrio entre escolha e responsabilidade, enquanto os pais estão aprendendo a fazer escolhas que limitam seu senso de responsabilidade.
Algumas inseguranças dos próprios pais interferem na habilidade de resolver os problemas dos filhos. A primeira delas surge do instinto natural de guiar e proteger. Os pais temem que os filhos venham a se ferir, a cometer erros, ou que de algum modo não sejam capazes de lidar com os desafios da vida. Se realizarem um exame honesto em seus pensamentos, descobrirão que eles têm suas raízes em seus próprios medos de serem feridos, de errarem ou de não serem capazes. A tarefa de guias e protetores é apoiar e encorajar o instinto natural dos filhos para explorar, experimentar, correr riscos e crescer.
Ninguém tem o direito de tentar forçar uma outra pessoa a viver segundo suas expectativas ou segundo seu próprio reflexo. Não se pode modificar o outro. Se esta tentativa acontecer o adolescente irá instintivamente resistir, abertamente ou por retraimento, porque seu processo de crescimento natural está ameaçado. O mais importante é manter aberto o canal de comunicação.
O processo de desenvolvimento requer que a conexão entre pais e filhos seja levemente afrouxada mas não quebrada. É preciso que reconheçam e a respeitem a individualidade de cada um. Esse é um caminho gradual que se estende por vários anos. Alguns conflitos são inevitáveis mas a chave se encontra na capacidade de dar aquilo que esperaria receber, amar sem a necessidade do amor retribuído, sem esperar ou exigir que os filhos compreendam e apreciem “tudo o que fizemos por eles”. Na verdade esse reconhecimento só vêm depois, na idade adulta.
O período da adolescência é necessariamente desafiador, mas se o desafio for aceito com todo o coração, há o potencial para um profundo crescimento pessoal e a alegria de desenvolver uma amizade permanente entre pais e filhos.
Lygia Aguiar
(Psicóloga)