A AIDS e o Tabagismo têm sido objeto de muita atenção por parte de todos. Atenção necessária. Mas, enquanto todos se ocupam desses problemas outro muito grave e do maior interesse tem ficado à margem: o consumo problemático do álcool e o alcoolismo.
Os números a esse respeito são assustadores. Nos EUA 150 bilhões de dólares/ano são gastos com essa condição. No Brasil, os gastos chegam a 5,4% do PIB. Outro dado impressionante é que 15,8% da população masculina acabam tendo problemas com a ingestão crônica de álcool. Se incluirmos os familiares, que direta ou indiretamente são afetados teremos um número realmente muito grande de pessoas que são muito afetadas pelo uso do álcool. Outro dado significativo da extensão do problema é que de 20 a 40% dos pacientes internados em hospitais gerais têm problemas relacionados ao uso exagerado de álcool.
Além dos problemas diretos e imediatos decorrentes da ingestão crônica ou excessiva, se têm os problemas secundários, como os acidentes automobilísticos. Em 50% do número de acidentes com vítimas fatais, encontramos motoristas que consumiram álcool em excesso. Há, além deste, muitos outros eventos que podem estar associados secundariamente ao uso de álcool: desde erros de trabalho, diminuição da produção, até desestruturação da família e decorrentes.
Temos também muitas pesquisas e indicadores que nos mostram que o consumo de álcool está aumentando muito entre menores e mulheres. Enquanto o esforço preventivo está se concentrando em outras drogas, os jovens atualmente estão consumindo muito mais bebidas alcoólicas. Também o número de internações de mulheres com problemas por ingestão crônica de álcool está aumentando muito.
Outros dados têm sugerido que os brasileiros têm tido uma oferta muito maior e a preços muito menores de bebidas alcoólicas do que em outros anos. De modo que, o consumo de álcool pelos brasileiros aumentou consideravelmente, pela facilidade e preço. Neste sentido, diversas autoridades no assunto comentam ser a nossa atual política omissa, permitindo um “crescimento absurdo e gravíssimo” deste problema.
Mas, o que é um alcoólatra? Como identificá-lo? É claro que um diagnóstico mesmo, a pessoa leiga não poderia fazer com certeza. Mas, ao bom amigo é suficiente desconfiar e comentar. Podemos considerar uma pessoa como alcoólatra se ela apresenta três ou mais dos seguintes sintomas: forte desejo, difícil controle do nível do consumo, quando a mesma dose já não faz mais efeito e começa a beber cada vez mais, quando se sente mal quando não bebe, persistência do uso com consciência do prejuízo e diminuição de outros interesses. Mas, não são só as pessoas dependentes do álcool (o alcoólatra propriamente dito) que têm problemas por causa dele. Neste sentido, hoje se divide as pessoas entre as que usam álcool e as que não usam.
As pessoas que usam o álcool podem ser divididas em:
- a) as que não têm problemas com isso – o chamado “uso recreacional”;
- b) as que apresentam alguns problemas – chamado “uso problemático”;
- c) as que usam intensamente – passam mal sem o álcool. Inicialmente ele é usado para dar algum prazer (uso recreacional) e com a dependência a pessoa passa a usá-lo para evitar o desprazer (o conhecido mal estar típico: tremores, suor, mau humor, etc.).
O mais importante de tudo é podermos localizar a pessoa com problemas desse tipo e fazer todo o possível para que a situação não se agrave. Para isso, devemos conversar com franqueza sobre as dificuldades da pessoa no momento, prestar atenção a seus problemas físicos decorrentes de ingerir muito álcool.
Conversar sobre esses pontos com amizade e sinceridade. Isso é importante, pois a possibilidade de sucesso depois de instalado o quadro (e sofridas todas as conseqüências físicas e sociais) a chance de recuperação é muito menor, já que a recaída faz parte do quadro clínico.
Desta forma, a identificação inicial de quem realmente está tendo dificuldades acaba ficando com os familiares e companheiros de trabalho. Isso pode ser visto por faltas constantes, queda do desempenho sexual, além de outros fatores. O fato é que o consumo excessivo de álcool sempre é apenas o que se vê de muitos problemas que não estão se vendo: dificuldades pessoais, frustrações, stress, trabalho excessivo, etc. Nestes casos, deve-se encaminhar a um psiquiatra ou psicólogo. E para examinar o estado físico da pessoa, ao clínico geral. Tudo isso é muito importante, porque o tratamento do alcoolismo é muito difícil e custoso e suas conseqüências muito duras para todos. O tratamento visto como o mais eficiente atualmente é aquele em que se combinam uma atenção psicológica, médica e com o apoio de entidade como a Associação dos Alcoólatras Anônimos (que tem prestado enormes serviços à sociedade).
Para quem tem dúvida se está bebendo muito, tem uma continha para se fazer, que serve para dar uma idéia: o atual critério da OMS para o consumo seguro de álcool seria, para homens, até 21 unidades de álcool por semana (uma unidade é cerca de 10 gramas de álcool) e, para mulheres, 14 unidades por semana. Por exemplo: uma lata de cerveja tem 300 ml, a 5% de álcool, temos 1,5 unidades de álcool, de modo que, para um homem adulto, a margem de segurança, seria de sete garrafas de cerveja por semana ou 14 latas. É lógico que se puder ser menos do que isso, é melhor ainda! Quer-se relaxar, saia com os amigos, namore… Divirta-se, é bom! Relaxe brinque… Mas, cuide-se!
João Paulo Correia Lima – psicólogo