O caráter histórico das práticas sexuais, sua dimensão simbólica e seu caráter dialético, configuram elementos que nos permitem compreender a relação indivíduo/sociedade/sexualidade. Até o final do século XVIII, o direito canônico, a lei civil e a pastoral cristã estabeleceram o lícito e o ilícito dos atos sexuais, colocando nonúcleo do seu discurso a família e seu papel reprodutivo, objetivando deste modo a ordem e o controle social através da regulamentação das práticas sexuais.
Com o inicio da modernidade e o avanço das ciências, o foco de atenção sexual deixou de ser o matrimônio e se concentrou nas sexualidades periféricas, ou seja, a sexualidade dos loucos, das crianças, dos criminosos e no prazer homoerótico. As sexualidades ditas periféricas não surgiram na modernidade, elas sempre estiveram presentes durante épocas anteriores, porém a diferença é que agora passam a ter uma visibilidade esão apresentadas como entidades específicas que devem ser estudadas, avaliadas e controladas
Através deste processo ocorreu a implementação das perversões pela ciência, que se encarrega de controlar, classificar e inseri-la dentro de uma realidade permanente e analítica. Estas novas classificações e especificações criaram uma nova identidade, um novo tipo de indivíduo: o “sujeito homossexual”, diferente dos outros sujeitos da sociedade por estar fora da norma dominante.
Esta construção moderna da homossexualidade como uma identidade, impossibilitou uma visão total do indivíduo, que passou a ser fragmentado com sua sexualidade predominando seus atos. O sodomita de épocas anteriores era um relapso, o homossexual do início da modernidade é uma espécie.
Atualmente, as ciências e a sociedade civil organizada deram grandes passos no sentido de desmistificar o prazer homoerótico e o preconceito social que o acompanha. Mas o caminho é longo e difícil, pois a tolerância alcançada através de árduo trabalho não é a falta do preconceito, mas sim, o preconceito congelado, escondido, à espera de uma oportunidade para surgir e estabelecer
suas normas e pautas de controle e normalidade sexual.
Paulo Bonança C.R.P 05-30190
Psicólogo e Sexólogo
Diplomado em Sexualidade Humana pela Universidade Diego Portales- Chile-
Autor da Tese “A AIDS entre os homossexuais; A confissão da soropositividade ao interior da família”.
Membro da ABRAP (Associação Brasileira de Psicoterapia)
Membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana)