Aportes de Kinsey e Foucault
Este artigo é uma homenagem a dois grandes guerreiros modernos que, a seu tempo e de seu modo, contribuíram para a visão que temos hojesobre a sexualidade humana e a seus atuais seguidores.
Um dos primeiros estudos modernos sobre a homossexualidade como fenômeno socialmente significativo, que recebeu destaque nos meios acadêmicos, foi o realizado pelo biólogo e sociólogo americano Kinsey, nos Estados Unidos entre 1948 e 1953. Em 1948, Kinsey publicou o primeiro relatório sobre o comportamento sexual dos homens, seguido pelo de mulheres em 1953. Os resultados das pesquisas descritos nos “Informes Kinsey”, trouxeram a luz pública dados considerados inimagináveis à sociedade americana puritana da época. Um deles foi a descoberta de que 92% dos homens e 68% das mulheres que participaram da investigação, afirmaram que se masturbavam ou que já tinham se masturbado, esta informação surpreendeu o mundo e os americanos.
Com relação ao objeto erótico afetivo da população masculina incluída no estudo, 50% relataram manter relações sexuais exclusivamente heterossexuais , 46% afirmaram ter tanto relações heterossexuais como homossexuais, 4% dos participantes afirmaram manter relações exclusivamente homossexuais, este último grupo foi definido por Kinsey como “homossexuais absolutamente homossexuais”.Obs: com relação a porcentagem de homossexuais, estudos atuais estimam que entre 5 a 10 % da população mundial seria composta por homossexuais.
As conclusões de Kinsey apontaram que a homossexualidade seria uma variação natural da expressão sexual normal do ser humano e que não estaria relacionada a aspectos psicopatológicos, além de que todas as pessoas seriam capazes de responder eroticamente a estímulos sexuais provenientes de pessoas do sexo oposto ou do seu mesmo sexo. Para alguns, Kinsey é considerado um sábio que demonstrou a hipocrisia reinante na época e colocou os holofotes sobre o tema da repressão sexual. Para outros, ou seja, seus detratores (e eles ainda existem), ele seria um dos responsáveis pelo decaimento da moral e dos bons costumes reinantes na atualidade.
Sobre a discussão científica e social acerca da normalidade ou anormalidade da sexualidade humana, outro detrator da repressão sexual, o filósofo Francês Michael Foucault, afirma que a sexualidade humana, através da história, esteve sob a suposta ameaça de ser dominada por processos patológicos, o que teria levado as ciências e a religião a intervir, atuando tanto no nível de prevenção como no de cura e normalização. Dentro deste processo a igreja católica, as ciências médicas e a sexologia definiram a homossexualidade como uma patologia, um desvio da conduta sexual normal, buscando deste modo mudá-la para a heterossexualidade dominante.
Foucault afirma que o poder social estabeleceu e ainda estabelece os limites entre o normal e o patológico, o racional e o irracional ,assim como do sano e do insano, seria um poder normalizador, que exclui o que não se enquadra dentro dos parâmetros formais de normalidade. Este poder social/normalizador teria suas bases no complexo saber/poder, ou seja, um vínculo direto entre o saber e o poder, em uma relação que potencializa o saber na sua busca da normalidade e que esta normalidade seria uma ferramenta de dominação. Segundo Foucault, devido a este poder normalizador/dominador podemos observar através do tempo como as pessoas foram (e continuam sendo) julgadas, classificadas, condenadas, obrigadas a viver de um certo modo e até a morrer por não desistir de suas convicções.
Normalidade sexual
Não é fácil definir onde está localizado o limite entre a sexualidade humana normal e a anormal, já que estes conceitos estão mais relacionados a atitudes sociais do que a dados científicos. Alguns autores afirmam que os conhecimentos científicos que temos a respeito do tema ainda são inconcretos e seria um erro tentar definir rigidamente a normalidade sexual. Com relação à saúde mental dos homossexuais, eles podem não ter nenhuma dificuldade psíquica e estar perfeitamente adaptados ao trabalho e a sociedade, ou por outro lado, apresentar uma ampla variedade de transtornos psíquicos exatamente igual aos heterossexuais. A perseguição e repressão da sociedade aos homossexuais, fariam uma parte da população deste grupo sofrer de distintos graus de neurose, mas estas não teriam relação com a orientação sexual, mas sim com a dificuldade que representa ser homossexual em nossa sociedade.
Paulo Bonança C.R.P 05-30190
Psicólogo e Sexólogo
Diplomado em Sexualidade Humana pela Universidade Diego Portales- Chile-
Autor da Tese “A AIDS entre os homossexuais; A confissão da soropositividade ao interior da família”.
Membro da ABRAP (Associação Brasileira de Psicoterapia)
Membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Estudos da Sexualidade Humana)