Você, filho ou filha, quais são as lembranças que guardou de seu pai? Dessas lembranças, o que ficou mais marcado dentro de você? Ele foi uma pessoa presente ou ausente em sua vida? E de tudo isso, o que você hoje, no papel de pai ou mãe pode transferir para seu filho? Estudos comprovam que é nas relações com nossos pais que aprendemos referências sobre o que é ‘ser pai’ e ‘ser mãe’.
Creio que a imagem paterna está em crise, trazendo conseqüências positivas e negativas para a sociedade. Hoje em dia, podemos falar que o casal está grávido, coisa impensável há algumas décadas atrás, quando o homem era o exclusivo provedor financeiro e a mulher dedicava-se integralmente aos cuidados com a casa e com os filhos. Por outro lado, o esquecimento dos filhos marca igualmente nossa época. Convivemos com aumento assustador de crianças abandonadas, meninos de rua, jovens separados dos pais.
Ser pai é fácil, na verdade. Homens assim se tornam quando o bebê nasce. No entanto, alimentar o desejo de o ser, preparar-se para o ser e tornar-se pai é difícil. Pois pai não é quem gera, é quem cuida quem abraça quem dá amor, quem participa junto da mãe na criação, felicidade, saúde, doença, noites em claro…
Para os mais jovens tornar-se pai na maioria das vezes é vivido como um grande susto. Depois de tantas madrugadas nas festas com os amigos, trilhas, viagens sem hotel reservado… Tudo isso começa a soar como algo “irresponsável”. São obrigados a pensar mais em si próprios e no futuro. E com razão! Afinal começam a perceber que não vão poder faltar para aquela “pessoinha” que vai depender deles por bom e longo tempo.
Embora pouco se fale das experiências masculinas durante a gestação, pode-se imaginar a quantidade de emoções que um homem vive ao longo desse período. Enquanto todos dizem: “nossa que graça! que bebê lindo!”, dentro do jovem existem outras questões mais sérias e importantes: a responsabilidade econômica, o compromisso afetivo com a família, o projeto de vida, o medo da nova experiência, a transformação na relação com a mulher gestante e futuramente mãe, a divisão do amor com o filho, etc. São temas que costumam surgir nos corações masculinos e que não costumam receber a devida atenção daqueles que prestam assistência à gestação e ao nascimento.
Nas idades maduras todas as mudanças acontecem da mesma forma, mas os filhos tendem a ser desejados, previstos, planejados. O casal experiente possui maior autoconhecimento, maior conhecimento mútuo, já superaram os obstáculos do início da convivência, da adaptação às responsabilidades financeiras… Então costumam tomar decisões mais coerentes, prevalecendo o consenso.
Não importa a idade, há momentos na nossa vida que são especiais na formação de vínculos. Chamam-se ‘períodos sensitivos’ pela facilidade maior que a pessoa tem de ser influenciada por um evento, do que noutros momentos. O período do nascimento do filho é um deles, facilitando para o pai e a mãe vincular-se ao bebê, em virtude de toda a transformação emocional que eles estão vivendo para lidar com o novo integrante da família.
Lygia Aguiar