A sexualidade nunca foi tão explicitada pela mídia, que com um marketing sempre atualizado associa êxito pessoal e profissional à imagem de um ser humano bem sucedido, realizado e sedutor. Uma espécie de mercadoria, um fetiche ao alcance de todos. Em outras palavras, um tipo de “consumismo do sexo descartável” que se caracteriza pela efemeridade e ausência de compromisso. Nota-se que uma das principais características deste modo fugaz de vivenciar a sexualidade se constitui no privilegia mento do sentido da visão. A velocidade da mídia exige a velocidade do olhar… Inegavelmente, o olhar pode funcionar como uma forma de aproximação, de sedução e de magnetismo no jogo erótico, constituindo uma linguagem universal de atração; ou também de indiferença ou aversão entre as pessoas. O olhar representa um estado inicial de atração, mas o momento seguinte à aproximação vincula-se, também, aos outros sentidos: o tato, a audição, o olfato, que, aliados, compõem a atração pelo objeto desejado como um todo. Nas relações amorosas, o gesto, o toque, a voz, o corpo, o beijo e o cheiro da pessoa amada são percebidos em sua especificidade e totalidade erótica. Nestes momentos, cegos e não-cegos transitam por horizontes singulares e, ao mesmo tempo, semelhantes. Diante dessa realidade, são inúmeras as barreiras a serem ultrapassadas pela pessoa cega, desde a mais tenra idade. O referencial de cognição da pessoa cega centraliza-se, particularmente, na percepção auditiva, tátil, olfativa, fato que não recebeu, ainda, a devida atenção das políticas educacionais, dos meios de comunicação e da sociedade como um todo.
Urge dizer que as questões apontadas neste livro e outras formuladas e não respondidas, ainda, por nós, revelam que os meios de comunicação, bem como a família e a escola, precisam revisar seus propósitos no sentido de expandirem e difundirem o universo semiótico das mais variadas formas de comunicação, envolvendo não só a linguagem visual, mas, também, os significados e sentidos da linguagem olfativa, gustativa e da sinestésica, cujas mensagens possibilitarão a ampliação do universo perceptual não só para aqueles que não são iguais a todos, porque lhes falta um sentido, mas, especialmente, para os dotados de visão, que passariam a romper com a visão fragmentada e reducionista que vêm alimentando há muitos anos. A sexualidade é um dos caminhos. Afinal, é busca de realização psicológica, juntamente com as funções biológicas e hormonais que imantam o corpo, sua morada, de alegria e de desejo para ultrapassar os preconceitos, estigmas, mitos e tabus. Rompendo barreiras, os cegos vão fazendo história, abrindo clareiras, mostrando que são resilientes. A nós videntes, a lição: a inclusão afetivo-sexual está apenas começando!
(AUTOR DESCONHECIDO)